Litoral Norte retoma atividades após 1 ano de tragédia causada pelas chuvas
Crédito liberado pelo governo paulista deu fôlego e ajudou empresários e comerciantes; maior parte dos prejuízos ocorreu em São Sebastião
A tragédia que atingiu o litoral norte do estado de São Paulo completou um ano nessa segunda-feira, 19. Comerciantes e empresários, muitos que dependem do turismo, sofreram prejuízos, mas conseguiram retomar suas atividades. Mais da metade das 65 vítimas que perderam a vida moravam na Barra do Sahy, em São Sebastião. Desabrigados e desalojados chegaram a quase 4 mil.
Com mais de 50 praias, desde Boraceia até Enseada, São Sebastião é uma das regiões mais encantadoras da costa brasileira e tem no turismo o principal pilar econômico. Em 2023, a cidade foi a primeira da região a integrar o Mapa do Turismo Brasileiro 2023, elaborado pelo Ministério do Turismo. A pasta classifica várias cidades turísticas entre as categorias “A” e “E”. São Sebastião ficou na categoria “A”.
Ajuda e recomeço
Hotéis, pousadas, restaurantes e serviços em geral oferecidos aos turistas foram fortemente impactados pela destruição de um ano atrás, mas muitos empreendedores conseguiram superar as dificuldades, recomeçaram e hoje já atuam normalmente. É caso de Mayli Carvalho de Moraes, dona há 18 anos da Marina Vitória – instalada no bairro de Boiçucanga, em São Sebastião, e que oferece passeios de barco.
Segundo a empresária, houve um desmoronamento da encosta na parte de trás da marina. São dois terrenos e metade da estrutura foi atingida. O deslizamento destruiu, por exemplo, o muro, câmeras de segurança e o trator, que foi encontrado dias depois soterrado. Havia ainda 30 barcos no local.
“Atualmente, a empresa está completamente recuperada e a estrutura totalmente refeita. Fizemos uma obra de recuperação ambiental, um estudo geológico, geotécnico, com sondagem para análise do solo; estrutura de gabião, contenção; delimitamos o caminho da água para que não ocorra um segundo acontecimento desse tipo.”, relata a proprietária da marina.
Mayli ganhou fôlego para reerguer a marina após ter crédito liberado pela Desenvolve SP – agência de fomento paulista ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. “Tive conhecimento das linhas de crédito porque, na época da catástrofe, o governador Tarcísio transferiu o gabinete dele para cá. Ele montou um comitê de gestão de crise e começou a anunciar a disponibilidade dessas verbas. São taxas de juros acessíveis.”, disse a empresária.
História e Infraestrutura
Localizada na Estrada da Maquininha, no bairro de Boiçucanga, a Marina Vitória tem 18 anos. A área foi arrendada por Mayli. O local serviu de primeiro portinho de pescadores da história de Boiçucanga. O bairro está em uma região privilegiada, num ponto estratégico entre Camburi e Maresias, e se tornou um verdadeiro complexo náutico.
Projeto social
Mayli mantém um projeto social junto à comunidade. Muitas pessoas carentes da região não conhecem tecnicamente o que acontece dentro da marina. “Nós temos aqui uma parceria com as escolas da região. Recebemos os alunos de diferentes faixas etárias. A gente mostra todas as possibilidades profissionais que você tem para exercer no meio náutico e tudo que é necessário para tal.”, afirmou a empresária.
Aulas são ministradas às crianças e jovens. “Os alunos passam pela área de rádio, apreendem como se tornar um operador de rádio, aprendem sobre escritório, documentos de embarcações, o que é necessário para se tornar um marinheiro ou um condutor de embarcação. São aulas de previsão do tempo, condição do mar, tábua das marés, regras de navegação, enfim, até um conhecimento um pouco mais técnico desse mundo náutico, finalizou a empresária dona da Marina Vitória.
Moradias, crédito e turismo
Por causa da tragédia, mais de 700 apartamentos foram construídos pelo Governo do Estado por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para moradores que ficaram desabrigados em São Sebastião. As unidades ficam nos bairros de Maresias e Baleia Verde. Há previsão de construção de outras 256 unidades no bairro Topolândia, próximo à região central da cidade.
Em outubro de 2023, o governo paulista já havia disponibilizado um total de R$ 1 bilhão para empresas de pequeno e médio portes se recuperarem da tragédia, e para obras públicas emergenciais em vários setores para as prefeituras de São Sebastião, Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba – municípios que tiveram o estado de calamidade decretado pelo Estado.
O total em liberações de crédito da Desenvolve SP aos municípios do Vale do Ribeira e Litoral Norte avançou 92% de 2022 para 2023. “Nosso objetivo não é ter lucro. Queremos possibilitar que os empresários façam novos empreendimentos, inovem, tenham ações, por exemplo, voltadas também para a sustentabilidade, além de gerar mais empregos para a região onde atuam.”, afirma Luca Seeder Iacona, superintendente de negócios do setor privado da Desenvolve SP.
A agência paulista oferece também crédito para empresas privadas que atuam no setor turístico dentro do estado de São Paulo. A verba pode ser utilizada em projetos de investimentos, aquisição de máquinas e equipamentos, além do capital de giro. “O turismo como um todo é um dos nossos pilares estratégicos. Esse apoio que damos para o empresário é fundamental para que eles possam retomar os negócios, por exemplo, em situações como a que ocorreu no litoral norte no ano passado.”, acrescentou Luca Iacona.
As linhas de crédito da agência atendem pessoas jurídicas com faturamento entre R$ 81 mil e R$ 300 milhões anuais. Já os Microempreendedores individuais, os MEIs, que faturam anualmente até R$ 81 mil, são atendidos pelo Banco do Povo Paulista. Para mais detalhes, acesse o site: www.desenvolvesp.com.br.