11 perguntas para Bob Wollheim, autor do livro “Empreender não é brincadeira”

19/06/2017

Taluama Cabral

A capacidade de inovar é determinante para a competitividade das empresas. Embora seja possível identificar avanços significativos nesse quesito nos últimos anos, algumas limitações ou dificuldades ainda persistem e distanciam o Brasil dos demais países mais inovadores, competitivos e desenvolvidos. Mas, para Bob Wollheim, um dos pioneiros do mundo digital no Brasil, a crise traz uma oportunidade única para as empresas inovarem. Conhecido por suas lições de empreendedorismo ousadas, o autor do livro “Empreender não é brincadeira” compartilhou nesta entrevista suas visões sobre o potencial brasileiro para educação empreendedora, os reflexos (bons) que a crise pode trazer para aumentar a inovação e a competitividade das empresas.

A inovação parece ser, ainda, um termo fora do cotidiano das pequenas e médias empresas. Nesse sentido, há muitas oportunidades à vista. Quais os grandes desafios, e como superá-los?

Bob Wollheim – Os desafios para inovar sendo pequeno, ao contrário do que se pensa, são menores. É o pequeno que consegue quebrar regras, fazer diferente, desenvolver novos processos, novos métodos, novos produtos. O pequeno é aquele que tem mais condições de fazer isso. Obviamente que, em alguns casos, produtos mais tecnológicos demandam investimento, pesquisa, conhecimento acadêmico, e isso se torna um pouco mais difícil. Mas, ainda assim, normalmente quem inova, quebra o mercado e traz a novidade é o pequeno.

O que é necessário para o pequeno empresário brasileiro ser mais inovador, então?

Bob – Nós somos um país muito mais criativo que inovador. Contudo, no meu pensamento, criatividade mais metodologia vira inovação. Criatividade mais persistência vira inovação. Então, o Brasil precisa transformar sua criatividade e sua capacidade de pensar fora da caixa, que é muito forte, em inovação. Como? Colocando métodos, processos, persistência, tempo etc. Para o pequeno, acho que as condições são dadas. A crise é boa, gera saturação de uma série de mercados, soluções e produtos, e a oportunidade está dada.

Esse é um ponto polêmico, muito se fala em “aproveitar” a crise. Mas como a crise pode ser boa?

Bob – A crise nos colocou no que eu chamo de modo empreendedor, no mood do tipo “é nós”, temos de fazer porque governos quebraram. Portanto, empreendedorismo voltou a ser uma opção, talvez por necessidade. Na verdade, as duas coisas crescem no Brasil (empreendedores por opção e por necessidade). A crise nos coloca frente a frente com esse desafio, e, a partir do momento em que mais gente está nesse desafio, naturalmente começamos a dedicar mais atenção ao que chamamos de educação empreendedora.

A educação empreendedora pode transformar uma empresa em inovadora?

Bob – Educação empreendedora cumpre um papel, na minha visão, que é de ajudar o empreendedor, ou candidato a empreendedor, a entender mais de gestão. Gestão de uma forma mais ampla, que não é só a questão da administração, do financeiro, mas muito mais um pensamento holístico e amplo de gestão de negócio – racionalização de recursos, operação com escassez, planejamento. Já a inovação é a capacidade de quebrar padrões, paradigmas, modelos existentes. Isso normalmente está no empreendedor. Educação empreendedora não vem para suprir isso. É a origem de um projeto do empreendedor que traz a inovação.

Inovação, então, é uma característica nata? Não é ensinável?

Bob – Eu acho que existe, sim, a capacidade de aprender inovação. Não é uma coisa nata. A inovação é metodologia, sistematização, organização e persistência, portanto é “super ensinável”. Mas eu separo, porque acho que pode ter a ver com empreendedorismo – as startups estão aí como exemplo –, mas eu não ensinaria as duas coisas [educação empreendedora e inovação] juntas.

Como seria a educação para uma startup, para usar seu exemplo?

Bob – A startup, pela própria essência, é um bicho inovador, já foi feito desse jeito, com novos paradigmas, novas estruturas, ou seja, já nasce assim. Dessa forma, precisa de menos educação para inovação, e mais para gestão, para fazer bem o negócio.

Ainda existem empresas que são muito conservadoras e sentem medo de mudança. Como alterar esse quadro? Quais os primeiros passos para inovar?

Bob – Um grande e fundamental passo é entender que precisa inovar. Por que se não houver essa compreensão, essa consciência real, nada adianta. E tem de ser uma compreensão real, não de blá-blá- -blá, um programa disso e daquilo para sair na mídia e ficar bonitinho na foto. Tem de ser um pensamento real e verdadeiro de que a inovação é um sinal de vida, e consequentemente a não inovação é o caminho para a morte na organização.

Qual o papel do líder da empresa nesse processo?

Bob – O CEO ou presidente, enfim, o líder número um da empresa, precisa estar consciente e querer inovar. Parece-me muito difícil que alguma coisa aconteça em uma organização, seja ela empresa pública ou privada, se o líder número 1 não tiver comprado a ideia.

Dentro da empresa, é o CEO que deve tocar os projetos de inovação?

Bob – Não necessariamente, mas, se esse líder não estiver “apadrinhado” pelo número 1, as chances de algo de verdade acontecer são muito baixas. É preciso escolher alguém, de dentro ou de fora, geralmente de fora, que seja responsável pelo processo, que seja um pouco hacker, com espírito de quebrar as regras, de não seguir os padrões, nem ficar preso ao status quo. Alguém que não tenha medo de perder o emprego, enfim, que tenha essas condições todas para tocar esse projeto de inovação dentro da companhia.

A educação empreendedora e a inovação no Brasil ainda estão muito distantes do patamar de países desenvolvidos?

Bob – Inovação é um estado de espírito, é quase um mindset, algo cultural, que no Brasil é baixo. Somos muito mais criativos, resolvedores de crise, do que inovadores. A educação empreendedora está engatinhando no Brasil. Temos um milhão de coisas voltadas para educação de negócios, de gestores, executivos, e muito, muito pouco para gestores que serão empreendedores. Existem uns exemplos aqui e lá, mas são poucos. Somos ainda bebês, quase recém-nascidos nessa questão de educação empreendedora.

Além da inovação, a educação empreendedora também pode contribuir para tornar o Brasil um país mais competitivo?

Bob – A educação empreendedora é fundamental. As empresas dão certo ou quebram por problemas de gestão, não porque a ideia era boa ou ruim. É por problemas de execução, que envolvem prioritariamente gestão. Gestão de recursos, de pessoas, de mercado, da comunicação, financeiro etc. Enfim, a educação empreendedora é fundamental porque contribui para aumentar a taxa de sucesso, ou diminuir as taxas de fracasso, que no Brasil, ou melhor, em qualquer lugar do mundo, são altas. Empreender é uma atividade de risco. No Brasil os riscos são altíssimos, justamente por essa carência de gestão que a educação empreendedora pode suprir.

Fonte: Revista Desenvolve SP – edição 5, p.06