Errar faz parte do negócio
Ao fracassar no negócio e recomeçar, aumentam as chances de sucesso no futuro, mas não basta talento, tudo depende de melhorar a gestão e o planejamento da empresa
“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, o trecho da famosa música “Volta por cima”, de Paulo Vanzolini, virou hino de superação e recomeço. No entanto, quando falamos de negócios, o mercado brasileiro não é tão compreensivo com o fracasso. Apesar dessa cultura de punir o erro, a palavra desistir não existe no dicionário do verdadeiro empreendedor.
Fechar uma empresa porque um negócio não deu certo é uma decisão difícil. Em muitos países, como nos Estados Unidos, quando os empreendedores relatam suas experiências antes do sucesso, sempre destacam seus fracassos como pontos positivos. “No Brasil, é mais difícil recomeçar pela própria cultura, que não aceita o erro como aprendizado, além dos passivos fantasmas da empresa antiga, que o empreendedor pode carregar por muitos anos”, diz Marcelo Nakagawa, professor de Empreendedorismo do Insper.
Mais importante do que simplesmente encerrar as atividades, é entender os motivos pelos quais a empresa vai fechar, e aproveitar essa experiência nos futuros negócios. Para Nakagawa, existem quatro pontos-chave que mais desestimulam o empresário brasileiro a recomeçar, os quais precisam ser vencidos:
1) estabelecer uma nova sociedade – receio de assumir novo compromisso societário;
2) passivos do negócio anterior – muitos empresários saem com o “nome sujo”, o que impede ou dificulta a criação de uma nova empresa;
3) problemas com o cliente – sentem-se desmotivados porque não tiveram uma boa relação com os clientes, ficou a sensação de que não valorizaram seu trabalho;
4) problemas de violência/ética – não estão apenas ligados a assaltos e outros problemas da vida urbana, mas também a pequenos furtos, até mesmo de funcionários, e relações não éticas com autoridades.
Não faltam exemplos de empreendedores que caíram várias vezes, passaram por crises e se reergueram mais fortes e sábios. Peter Paiva, dono do Armazém Peter Paiva, conhecido como o Rei do Sabonete, não teve muito sucesso em sua primeira atividade – sua loja fechou as portas quatro anos depois da abertura. “Quando tive o desafio de recomeçar, eu não dormia, ficava sonhando em encantar a todos e mostrar sem nenhuma vergonha que eu renasceria”, diz. Em 14 anos de atuação, mais de 18 mil pessoas já fizeram o curso para aprender sobre os mais de mil tipos de sabonetes criados por Paiva.
A falta de conhecimento de gestão é apontada como uma das principais causas do insucesso nos negócios. De acordo com o indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações, em 2013 foram realizados 1.758 pedidos de falência em todo o País. Para Sandra Fiorentini, consultora do Sebrae-SP, o empresário conhece o mercado, tem um produto ou presta um serviço excelente, mas não sabe administrar. “Não basta só ter talento, ele precisa saber calcular o preço de venda, fluxo de caixa, ter uma estratégia de marketing, controle de estoque, saber contratar funcionários, entre muitas outras coisas”, diz.
O curso de inovação e empreendedorismo da Universidade de Harvard, em Massachusetts, EUA, pratica um bom exemplo de como o fracasso deve ser encarado pelos empresários. Lá os alunos fazem um currículo totalmente oposto ao tradicional. Seu “currículo de fracassos”, sejam pessoais, profissionais ou acadêmicos, faz com que reflitam sobre como podem tirar proveito de seus erros e como evitá-los no futuro. Afinal, como diz uma das frases atribuídas a Henry Ford, preferidas por empreendedores e especialistas, “o insucesso é apenas uma oportunidade para começar de novo com mais inteligência”.