Da ficção para a realidade
A inteligência artificial, uma das tecnologias mais disruptivas dos últimos tempos, pode impulsionar negócios de todos os portes
Por Taluama Cabral
Compreender o significado de obras de arte pode ser uma tarefa difícil. Mas já pensou olhar para um quadro e perguntar para ele o que a imagem representa? Ou qual o estilo da pintura e o contexto histórico em que foi produzida? Por mais fantasioso que pareça, exposições interativas, que “conversam” com o público em linguagem natural, são rotina em alguns museus. Na Pinacoteca, em São Paulo, um sistema de inteligência artificial (IA) da IBM permitiu que, com um smartphone em punho, visitantes se comunicassem com sete telas do acervo – como Mestiço, de Cândido Portinari (1934), e Bananal, de Lasar Segall (1927). Independente da forma como o questionamento fosse feito, a tecnologia trazia uma resposta.
Carros autônomos, reconhecimento facial e de voz e até diagnósticos de doenças por meio de algoritmos. As possibilidades da IA são inúmeras e seus efeitos estão no nosso dia a dia. Prova disso são os assistentes virtuais para smartphones, como Siri (Apple), Alexa (Amazon) e Google Assistente, que respondem perguntas, fazem recomendações e executam ações. Um estudo liderado por James Landay, da Universidade Stanford, mostrou que o reconhecimento de voz é três vezes mais veloz do que digitar em um celular e a taxa de erro é só de 4,9%. O impacto da IA é onipresente, sobretudo em machine learning (aprendizado de máquinas).
Nos negócios, a IA melhora o potencial competitivo e ajuda a reduzir custos. É ela, afinal, que permite que dispositivos “raciocinem”, tomem decisões e solucionem problemas simulando a inteligência humana. Por isso, tem se expandido em diversas áreas, mudando drasticamente a forma como as empresas trabalham. “A inteligência artificial pode ser a tecnologia mais perturbadora desde a revolução industrial”, escreveu Paul Daugherty, diretor da Accenture. E não adianta ignorar essa transformação. “Ela está mudando a regra do jogo”, ressalta o presidente da Escola de Negócios Saint Paul, José Claudio Securato.
A boa notícia é que inovações trazidas pela IA podem ajudar negócios de todos os portes – potências como Microsoft, Google e Amazon contam com isso. Tanto que há tecnologias em seus sistemas de nuvem disponíveis por subscrição. Assim, PMEs podem recorrer a esses recursos pagando menos. “As pequenas e médias empresas têm a seu favor a agilidade em reagir às mudanças, maior capacidade de personalização e diferenciação de produtos e serviços”, diz Ingrid Imanishi, consultora de soluções avançadas da israelense NICE, que desenvolve softwares com IA e machine learning para contact centers.
Até hoje, segundo ela, tecnologias de ponta eram muito caras para pequenas escalas. Por mais bem informadas e dinâmicas que fossem as empresas menores, não conseguiam ter acesso às inovações antes que elas se tornassem commodities. “Isso mudou. A disseminação de softwares como serviços, em aplicações na nuvem, está aproximando empresas de todos os tamanhos a ferramentas que antes só eram viáveis em escalas de grande volume”, ressalta Ingrid.
TECNOLOGIA PRÓPRIA
Há os que desenvolvem sua própria tecnologia, como a paulista Tevec, que atua no segmento de soluções de machine learning para previsão de demanda. A empresa usa IA para otimizar processos logísticos e garantir que os consumidores dos seus clientes encontrem seus produtos nos pontos de vendas. Ou seja, permite a entrega da quantidade ideal. “Oferecemos as previsões de demanda de cada elo da cadeia, trazendo capacidade de reação frente ao mercado dinâmico”, explica Luiz Andrade, diretor técnico da Tevec.
Ele conta que, na última Páscoa, uma grande marca de chocolates finos usou a tecnologia e reduziu o índice de desperdício nas lojas em mais de 60%, além de não perder vendas por falta de disponibilidade. Para alcançar tamanha precisão, os cálculos feitos pela plataforma, que é oferecida em nuvem, incluem variáveis como localização das lojas, custo de matéria-prima e condições climáticas.
Quando o assunto é contato com o cliente, os agentes virtuais ou chatbot, novos softwares que gerenciam trocas de mensagens usando IA, vêm revolucionando o mercado. Eles são programados para responder às perguntas mais frequentes de forma mais natural e, a cada conversa, aprimoram sua interação e se atualizam automaticamente. Por fazerem atendimentos simultâneos, contribuem também para diminuir custos.
Dados da consultoria Gartner apontam que, até 2020, 85% das interações dos consumidores serão automatizadas, e este será o primeiro quesito para diferenciar uma empresa de seus competidores. Como aconteceu em revoluções passadas, a IA será um divisor de águas. Embora não dê para prever quais empresas dominarão nesse novo ambiente, uma coisa é certa: as mais inovadoras e adaptáveis terão maiores condições de prosperar.
MAIS QUE UM ROBÔ
O IBM Watson, usado na Pinacoteca, é um dos principais sistemas inteligentes no mercado. Ele processa 2,5 bilhões de gigabytes de dados da web diariamente para se tornar ainda melhor. Confira três aplicações em diferentes áreas.
O Watson for Oncology identifica tratamentos contra câncer. Com dados clínicos, histórico do paciente e exames, faz uma varredura em evidências científicas disponíveis no mundo para indicar opções terapêuticas.
Já o robô Ross é uma fonte de consulta avançada para advogados. Compreende linguagem natural e responde postulando hipóteses baseadas, por exemplo, em leis e jurisprudência para ajudar a fundamentar processos.
Chef Watson cria pratos. Lê milhares de receitas da revista Bon Appétit e analisa combinações de ingredientes nunca testadas. Identifica preferências culturais e a composição nutricional para elaborar comidas funcionais.