Criar nunca foi tão lucrativo

03/06/2015

A criatividade como capacidade de inovar é um dos fatores determinantes da vantagem competitiva das empresas.

Você já ouviu falar em Economia Criativa? Se sua empresa usa como matéria-prima o exercício da imaginação e consegue transformar isso em valor, você já faz parte dela. A Indústria Criativa movimenta bilhões de reais por ano no Brasil e é hoje parte determinante e crescente da economia global, gerando emprego, agregando valor e aumentando a competitividade das empresas e da economia. A Economia Criativa pode ser definida como processos que envolvam criação, produção e distribuição de produtos e serviços, usando o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos. Dentro de um cenário em que os produtos são cada vez mais parecidos, a criatividade passou a ser vista como um ativo importante dentro da lógica de agregação de valor, consolidando-se como um dos fatores determinantes para aumentar a vantagem competitiva das empresas.

Os setores relacionados à Economia Criativa estão entre os que mais crescem, e representam ótima oportunidade para empreendedores alcançarem mais lucro e competitividade. Para se ter ideia do tamanho desse mercado, em 2013, a Indústria Criativa no Brasil era composta por 251 mil empresas, que geraram um Produto Interno Bruto equivalente a R$ 126 bilhões, ou 2,6% do total produzido no Brasil naquele ano. Nos últimos 10 anos, o número de empresas do setor cresceu 69%, e elas hoje são responsáveis por cerca de 900 mil empregos formais – crescimento de 90% entre 2004 e 2013.

Segundo Lídia Goldenstein, economista especializada em economia criativa e integrante do Conselho de Administração da Desenvolve SP, a Indústria Criativa nasceu pela necessidade das empresas de mudar seus perfis, por conta da mudança do processo de produção com a entrada dos países asiáticos no mercado de manufatura. “Com a migração das indústrias para a Ásia, o valor agregado dos produtos passou a ter mais importância. A tecnologia, o design, a marca, os novos processos produtivos passaram a ter mais importância. Houve uma transformação radical, que tem levado os países a se readaptar”, diz.

Para entender melhor, Lídia cita como exemplo um tablet, que é produzido na China, mas apenas 30% do valor do produto é custo de produção. “Todo o resto é tecnologia, design e a marca, que tem uma importância muito grande para o apelo de consumo. Todas essas outras características, que não a produção física, são muito mais importantes na geração de valor de um produto hoje em dia, e estão ligadas à Economia Criativa.”

Mudança de hábito

O termo Economia Criativa começou na Inglaterra com políticas públicas altamente agressivas para enfrentar a mudança da geografia econômica internacional com a ida de empresas para a Ásia. O movimento de migração das indústrias inglesas resultou em desemprego e no abandono de cidades, tanto que em 1987 o governo começou a repensar as estratégias de desenvolvimento para o país, introduzindo uma nova política industrial, focada em agregar valor e conhecimento aos produtos.

Com uma economia mais fechada, a indústria brasileira demorou a responder à transformação da economia global e ainda sofre com a influência asiática. “À medida que o Brasil abriu um pouquinho, a invasão de produtos de fora foi avassaladora. Nossa indústria passou a reivindicar o fechamento da economia e pedir mais proteção que podiam retardar o processo, mas não solucionar –, em vez de repensar e se revolucionar ante essas novas necessidades que a competição internacional vem colocando, que são todas elas ligadas à Economia Criativa”, diz Lidia Goldenstein.

Apesar dos problemas, o Brasil já tem uma representatividade grande de empresas de Economia Criativa, e a tendência é aumentar, principalmente em setores novos como o de games, por exemplo, que produz jogos não só de entretenimento, mas de educação e treinamento.

Dois cases de polos de Economia Criativa são o Porto Digital, em Recife (PE), responsável por uma transformação radical, levando segmentos de alta tecnologia com atratividade internacional para a cidade; e a cidade de Paraty (RJ), que de uma maneira completamente diferente, promovendo um festival literário (Flip), está conseguindo fazer um processo de regeneração urbana e preservação do patrimônio histórico.

Segundo Bruno Caetano, diretor-superintendente do SEBRAE-SP, Economia Criativa é um segmento de atuação que tem crescido muito, não só como forma de negócio, mas também com impacto direto na rotina de empresas que estão há anos no mercado e precisam se diferenciar e inovar nos processos para permanecerem lucrativas.

“O Sebrae-SP é parceiro desse empreendedor na capacitação, trabalhando para que ele melhore na gestão do negócio e esteja preparado para tomar as melhores decisões no comando de sua empresa”, diz.

Apostando na Economia Criativa

A maioria dos novos negócios inovadores está ligada à Economia Criativa. O design, a produção de softwares de lazer, a moda, entre muitos outros (veja quadro na pagina 11), são segmentos que dependem da produção intelectual e têm como característica comum alto valor agregado e grande dose de criatividade. Além de desenvolver um novo negócio, a Economia Criativa possibilita que pessoas mudem de atividade e conquistem sucesso a partir de suas ideias.

Foi durante o curso de MBA em Gestão de TI que Fabio Lereno e outros três amigos tiveram a ideia de criar a Fashioned, rede social destinada a pessoas com interesse direto ou indireto no mercado da moda, a qual tem como finalidade auxiliar novos profissionais em seu desenvolvimento e empresas na busca por novos talentos.

Profissional de TI em uma empresa tradicional, Lereno conta que o mercado da moda o atraiu pela abrangência e pelas características específicas, difíceis de comparar com qualquer outro. “Ele atua em todas as classes sociais e em todos os países. Não tem problemas de sazonalidade, embora tenha regras próprias, que são as coleções, ou seja, vende-se moda o ano todo.”

A startup tem mercado potencial para atingir os objetivos e se tornar uma empresa rentável para os investidores e, ao mesmo tempo, auxiliar no desenvolvimento da sociedade. “Existem ainda outros mercados aos quais nosso modelo de negócio pode ser aplicado. Nosso objetivo é colocar a Fashioned no mercado e torná-la sólida em três anos”, diz.

O movimento realizado por Lereno em direção ao próprio negócio criativo já foi percorrido pela ex-gerente financeira Daniela Fittipaldi, que deixou uma grande empresa para empreender na indústria criativa, e hoje é dona de uma empresa de lembrancinhas para festa fundada em 2006, em São Paulo.

“A ideia surgiu com minha irmã, que na época estava desempregada e queria montar um negócio. Eu disse que entraria de sócia se fosse na área de moda ou de festa, que sempre gostei de organizar”, explica Daniela.

Em quase nove anos, a empresa cresceu mais de 200% em faturamento, segundo a empresária. “O retorno foi rápido, em aproximadamente um ano recuperei o que investi. Temos bons parceiros, mas a propaganda boca a boca e a recompra pelos clientes é nosso grande trunfo, além de funcionários responsáveis pela captação de novos clientes”, conta. Daniela diz ainda que, como a concorrência é muito acirrada nesse setor, principalmente em preço, é preciso inovação constante, ideias criativas e diferenciadas.

Com uma ideia simples surgiu o 99Taxis, em 2012, quando um dos sócios viajou para a Alemanha e conheceu o serviço de chamada de táxi por aplicativo, que estava em alta por lá. Viu que no Brasil poderia funcionar muito bem e facilitar a vida de milhares de pessoas, além de poder dar mais trabalho para os taxistas. Paulo Veras, CEO do 99Taxis, explica que, mais do que investimento, precisou de boas ideias para vencer a concorrência. “Inovamos e conquistamos a confiança e amizade dos taxistas por ser o único app que não cobrava deles a cada corrida. Acreditei desde o inicio em nosso potencial, porque tínhamos um plano só- lido de atuação. Temos também uma equipe muito competente, que, por não ter tanto investimento, teve de ser muito mais inteligente para nos garantir a liderança que temos hoje no País.”

Mercado da indústria criativa no Brasil em 2013:

251 mil empresas

PIB de R$126 bilhões

De acordo com a conceituação inglesa, são 13 os setores que compõem a economia criativa:

Arquitetura

Propaganda

Artes Cênicas inclui dança, circo etc

Artes e Antiguidades

Artesanato

Design

Rádio

Música

Moda

Cinema e Vídeo

TV

Softwares de lazer

Editoração revistas, livros, jornais, web