Crédito para horas certas, e incertas
Aliado ou vilão? Crédito inteligente depende de planejamento, visão de longo prazo e gestão financeira eficiente
Luís Veloso
Qualquer empresário que deseja crescer tem de planejar seu negócio, e um item que não pode faltar na lista é o crédito. Uma hora ou outra, todo empresário vai precisar recorrer a um financiamento, seja na hora boa, em que a empresa precisa investir para aumentar a produção, por exemplo, ou na hora ruim, quando ela tem de recorrer ao crédito de curto prazo para honrar seus compromissos num momento de instabilidade. O importante é estar preparado para o crédito certo para cada fase do negócio.
O estoque de crédito do sistema financeiro nacional totalizou R$ 3,1 trilhões em janeiro de 2017, e metade desse montante foi para as empresas. Em apenas 10 anos o estoque de crédito no País cresceu 25 pontos porcentuais. E isso é muita coisa. “Esse indicador é importante para que se possa avaliar a dimensão do mercado de crédito ao longo do tempo”, diz Renato Baldini Junior, chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central.
Apesar desse grande volume de recursos, o mercado de crédito, especialmente o de longo prazo, ainda é pouco explorado pelos pequenos empresários. Não são raros os casos de empresas que investem de forma Aliado ou vilão? Crédito inteligente depende de planejamento, visão de longo prazo e gestão financeira eficiente Luís Veloso horas certas, e incertas Crédito para as Renato Baldini Junior, chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central crédito revista desenvolvesp 25 equivocada, recorrendo ao capital de giro, de curto prazo, para financiar o investimento em formação de capital fixo, como compra de má- quinas ou ampliação da empresa, por exemplo, que demandam um tempo maior de maturação do investimento, ou ainda as que usam capital próprio para esse fim, deixando a empresa sem reservas para períodos de necessidade.
Segundo Nicola Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), falta ao empresário brasileiro informação básica sobre o crédito. “Existem questões estruturais, a inflação seria uma delas na década de 80 e no início da de 90, déficit fiscal, déficit externo, nós melhoramos em muitas coisas, mas mesmo assim ainda não conseguimos planejar no longo prazo”, diz.
Quando se fala em crédito de longo prazo, a primeira coisa que vem à cabeça do empresário é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas existem outras instituições, as agências de fomento estaduais, como a Desenvolve SP, pouco conhecidas por grande parte dos empresários, que foram criadas especialmente para apoiar os pequenos negócios, oferecendo linhas de financiamento variadas com juros mais baixos e prazos mais longos que os bancos comerciais.
Juros: o inimigo número 1
Não é novidade que o Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo. Segundo Tingas, da Acrefi, o problema dos juros no Brasil é estrutural. “Temos uma inflação alta, devíamos estar no padrão internacional, em torno de 2%”, diz. “Além disso, tínhamos de ter mais governança econômica, com regras definidas, com agências reguladoras que dão estabilidade, sem penduricalhos e puxadinhos na economia. A tal da jabuticaba brasileira. ”
Para o economista, baixar os juros no Brasil depende, entre outros fatores, da confiança do empresário. “Com estabilidade econômica o empresário consegue ter visão e operar com regras estáveis ao longo dos anos, confiar no mercado. Os bancos também conseguem emprestar com menos risco, assim as taxas vão naturalmente cair. Precisamos de um ambiente que permita tudo isso”, afirma Tingas.
Tecnicamente, nas operações de crédito, as taxas de juros são determinadas pela composição de diversos fatores. A taxa básica de juros (Selic) reflete a postura da política monetária e é um importante fator, pois determina o nível básico para o custo de captação de recursos pelas instituições financeiras. Mas, de forma geral, o nível da taxa de juros de uma operação de crédito está diretamente associado ao risco de inadimplência da operação. Por isso existe diferenciação de taxas entre os tomadores de crédito.
“Clientes com melhor perfil, com histórico de pagamentos em dia em operações anteriores, com suficientes níveis de renda ou faturamento, têm acesso a taxas de juros mais baixas. Da mesma forma, as taxas de juros das diferentes modalidades de crédito variam de acordo com a natureza e a qualidade das garantias oferecidas”, diz Baldini, do Banco Central.
Qual crédito mais adequado?
Capital de giro é um crédito de curto prazo para ser usado no dia a dia da empresa, como pagamento de funcionários ou fornecedores, compra de matéria-prima ou insumos etc. Nessa modalidade as exigências são menores, mas os juros são mais caros e os prazos mais curtos.
Desconto de duplicatas é uma operação financeira de curto prazo destinada a antecipar os valores a receber das vendas a prazo. Fique atento às taxas cobradas na antecipação de duplicatas, muitas vezes o valor cobrado pelo banco, mais os descontos de impostos incidentes na operação, desvaloriza o montante a ser recebido pela empresa.
Crédito de longo prazo é o crédito voltado para o crescimento da empresa, como aquisição de novas máquinas, investimento em inovação, ampliação ou expansão do negócio. Aqui os juros são bem menores, e os prazos, maiores. Mas, as exigências são maiores, e o empresário deve apresentar garantias e um plano de negócios.
Investimento misto alia os recursos do investimento fixo de longo prazo ao capital de giro associado ao investimento, como para compra de matéria-prima.
Cartão de crédito, que parecia exclusividade da pessoa física, mostrou-se uma ferramenta muito eficiente também para os pequenos empresários. Prova disso é o sucesso do Cartão BNDES, que financia de forma ágil e simplificada os investimentos das PMEs.