É possível inovar
Investir em novos produtos e processos aumenta a competitividade. E já existe inovação para empresas de todos os tipos e tamanhos
Quando o assunto é inovação, dúvida e empolgação para explorar novas ideias dividem a cabeça dos empresários. Uma das questões, enfrentadas principalmente pelas pequenas e médias empresas (PMEs), é saber se dá para inovar mesmo sendo pequeno e com poucos recursos. A resposta, segundo especialistas entrevistados pela revista Desenvolve SP, é sim. Não importa o tamanho da empresa, todas podem inovar.
A capacidade de fazer algo novo é determinante para aumentar a competitividade. A adoção de um planejamento no qual o foco principal seja a inovação é fundamental para garantir o crescimento e o desenvolvimento da empresa no longo prazo. Além disso, o aperfeiçoamento da matriz econômica e o incremento da capacidade produtiva brasileira dependem de inovação.
Há alguns anos, investimento em inovação era assunto para grandes empresas ou pesquisadores que lançavam um produto novo e criavam uma startup. Hoje, no entanto, ganha força o conceito de que qualquer empresa pode inovar. “Todas as empresas podem ser inovadoras independentemente do porte. As boas ideias são aquelas que resolvem problemas relevantes e frequentes na vida dos clientes. Aí estão as melhores oportunidades para inovar”, diz Maximiliano Carlomagno, sócio- -fundador da InnoScience, consultoria em gestão da inovação.
Antes de transformar uma boa ideia em um novo produto ou processo, a empresa precisa saber qual papel a inovação terá em sua estratégia e como ela usará isso para competir. Nas principais empresas inovadoras existem diretrizes claras em relação à inovação. Há em seu planejamento a definição de quanto a empresa deseja ser reconhecida como inovadora, como conviver com o risco, como valorizar as equipes e sua produção criativa, entre outros fatores. É essencial inserir a cultura de inovação no centro das estratégias.
Segundo especialistas, algumas ações simples podem servir para que pequenos e médios empresários se debrucem sobre seu planejamento e incorporem a inovação na agenda da empresa – como incentivar e premiar os funcionários de forma adequada, investir em laboratórios, oferecer um ambiente de experimentação e criatividade e que seja tolerante aos erros. A empresa precisa também estar em constante renovação, avaliar o mercado em que está inserida e como é a atuação dos concorrentes.
A competitividade é outro fator essencial para inserir em qualquer empresa a cultura da inovação. Para José Carlos Cavalcanti, consultor na área de inovação e membro fundador do Conselho de Administração do Porto Digital, em Recife, PE, só a competição entre empresas traz evolução. “Existe um ambiente pouco favorável à competição estrangeira, e se não há competitividade os empresários se sentem pouco estimulados a inovar para ‘escapar da competição’. Em resumo, apesar de o brasileiro ser muito criativo, o ambiente econômico do País não incentiva plenamente a inovação”, diz.
Além do cenário
O caminho para o Brasil ocupar um lugar de destaque no campo da inovação mundial é longo e depende do ânimo das empresas. Para encarar o novo mercado global, em que a grande vantagem comercial passou a ser o conhecimento, o investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) se tornou fundamental para qualquer companhia, muito embora ainda continue patinando nos últimos anos.
Segundo dados coletados pelo IBGE na última Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), de 2011, a porcentagem total de investimentos privados em PD&I no País é de apenas 0,59% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, a participação do PD&I no PIB fica em 1,83%, na Zona do Euro em 1,34%, na China em 1,39% do PIB e na Coreia do Sul em 2,45%.
Levantamento realizado pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), em abril, mostra que as médias empresas brasileiras veem um difícil cenário para o desenvolvimento da inovação. Apenas 3% delas apontam a inovação como prioridade de investimento nos próximos cinco anos, e 55%, das 216 companhias ouvidas no levantamento revelam que não têm nenhum processo formal de inovação. Metade dos entrevistados nem sequer conhece qualquer modelo de apoio à inovação.
Segundo Milton Mori, diretor executivo da Inova Unicamp, agência de inovação da Universidade de Campinas, a dificuldade de inovar no Brasil pode ser resumida em três pontos. “A burocracia, que envolve todas as etapas da inovação, como o pedido e a concessão de patentes, autorização para novos produtos nas diversas agências de controle, entre outros. Depois, as universidades públicas não poderem participar mais ativamente em negócios, e, apesar dos esforços, ainda há poucos recursos para a instalação e manutenção de parques tecnológicos”, diz.
Além dos problemas estruturais brasileiros, outro fator que limita o investimento em inovação nas empresas é o aumento da pressão por resultados de curto prazo. Segundo especialistas, a decisão de investir em inovação tem de partir dos andares mais altos da empresa, com a estruturação de áreas especificas e com orçamentos próprios para evitar que qualquer sobressalto nas contas corte os investimentos, além de incentivar que todo o time pense na inovação como algo inerente ao negócio.
Inovação ou invenção?
Uma dúvida que martela na cabeça dos pequenos e médios empresários é como identificar se sua ideia pode ser considerada uma inovação ou ficará relegada à prateleira das invenções mirabolantes. O conceito de inovação é subjetivo e motivo de muita discussão. Embora existam algumas definições mais usadas, nenhum especialista consegue cravar com clareza e objetividade o que é inovação. Para muitos, inovação é o que a empresa faz de diferente das demais, resultando em crescimento. No entanto, ela não se dá exclusivamente com a criação de produtos ou tecnologias revolucionárias, mas também com o desenvolvimento de ferramentas de gestão e processos.
E é nesse último que os especialistas apontam que qualquer empresa pode ser inovadora. “Inovar também é aprimorar produtos, serviços e processos já existentes, o que chamamos de inovação incremental. Já a inovação radical, geralmente ligada ao mundo da tecnologia, é quando se cria, de fato, algo que transcenda a inovação anterior. Um bom exemplo é a evolução do disco de vinil que passou por todo um processo até se transformar em arquivos digitais em MP3”, diz Marcos Oliveira, coordenador da Pós-Graduação da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
No mundo da inovação é errado classificar ideias como aprovadas ou reprovadas. Segundo os especialistas, existem apenas ideias que podem ser aplicadas imediatamente e outras que devem ser armazenadas para ser revisitadas no futuro. As empresas devem premiar boas ideias e reconhecer as equipes criativas, mesmo que a inovação não surta efeitos práticos imediatos. “A inovação começa com inspiração. A autonomia de inovar, além de produzir o novo, faz com que todos façam melhor o que tem de ser feito”, diz Edmour Saiani, especialista em gestão estratégica.
O sucesso no campo da inovação depende de muita dedicação, engajamento e planejamento. “A inovação está na pauta da maioria das empresas atualmente. Nunca se falou tanto no assunto. Mas o conhecimento sobre como inovar de forma rentável ainda é embrionário. Utilizar a inovação como estratégia requer toda uma mudança cultural e organizacional. No entanto, existem exemplos muito bons de empresas que lograram seguir esse caminho, e eu acredito que mais e mais organizações seguirão por ele”, diz Alberto Gadioli, diretor técnico de Pesquisa e Desenvolvimento da 3M do Brasil.
Só falta o dinheiro
Grande volume de investimento nem precisa ter um lançamento ultramoderno com tecnologia de ponta. Segundo levantamento realizado pelo Sebrae-SP com 4.200 empresas paulistas, 50% das inovações em processos ou métodos custam até R$ 2,5 mil, e investir em novos produtos ou serviços sai até R$ 3 mil. Além de caber no caixa, a inovação trouxe resultados garantidos – quem investiu conseguiu aumentar seu faturamento em 100%, em média.
Ainda assim, se a inovação que a empresa pretende fazer depender de um investimento que demande mais recursos do que aqueles que estão em caixa, há muitas formas de conseguir a verba para tirar o projeto do papel. Linhas de financiamento e investidores em capital de risco são algumas das opções mais comuns de onde conseguir o dinheiro necessário (veja quadro).
A Desenvolve SP, por exemplo, tem linhas de financiamento sem juros para inovação. O Programa São Paulo Inova oferece opções para empresas de qualquer porte, desde startups até as que faturam R$ 300 milhões. Além dele, a Desenvolve SP é repassadora em São Paulo do Programa Inovacred, da Finep, que financia empresas inovadoras.
Ser alvo de investidores em capital de risco, os chamados venture capital, é outra forma de levantar os recursos para inovar. Eles podem ser pessoas físicas (investidor-anjo), grandes empresas ou Fundos de Investimento em Participação, os FIPs. “O capital de risco é indispensável para completar o processo de inovação. Não só pelo dinheiro, mas também por levar governança, networking e gestão. Acelera a profissionalização”, diz Francisco Jardim, sócio fundador da SP Ventures, gestora do Fundo Inovação Paulista lançado pela Desenvolve SP em parceria com outras instituições para investir em empresas inovadoras.
A Tecnoblu foi uma das companhias investidas por outro fundo que tem a Desenvolve SP como cotista, o CRP Empreendedor. A empresa de aviamentos recebeu um aporte de R$ 7 milhões. Considerada pela Endeavor uma das mais inovadoras do País, a companhia aumentou seu faturamento em 40% depois do investimento. “Com a entrada da CRP na sociedade da Tecnoblu, trouxemos melhor condição de investimento, mas, acima disso, melhoramos muito nossa capacidade de analisar as oportunidades do mercado e passamos a gerir a empresa com olhar de investidor, melhoramos nossa governança e o modelo de negócio”, diz Cristiano Bueger, fundador e diretor de Marketing e Inovação.
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