Conectividade total

17/06/2016

Sua casa, seu e até seu tênis já estão conectados à internet. Quando sua empresa vai estar preparada para a revolução da Iot?

É muito provável que você já tenha ouvido falar em “internet das coisas” (IoT, do inglês “internet of things”) e o quanto ela vai revolucionar a forma como nos relacionamos. Mas você já parou para pensar em como ela será capaz de transformar o modo pelo qual as empresas conduzem seus negócios e competem no mercado? Se ainda não pensou, calma! Ainda há tempo de rever conceitos e modelos de operação de sua empresa para não ficar para trás.

Na definição mais simples, “internet das coisas” é uma conexão em rede de pessoas, dados, processos e coisas. Em um mundo cada vez mais conectado, uma infinidade de objetos – muito além de smartphones e tablets estão sendo equipados com diferentes tipos de sensores que lhes permitem ser monitorados, coordenados e controlados por meio de uma rede ou pela internet. É o caso de eletrodomésticos, vestuários, veículos automotivos e os mais diversos tipos de máquinas, equipamentos e gadgets que possamos imaginar. Para Maria Mônica de Oliveira, chefe de Conhecimento (CKO) da H&M, consultoria voltada para a área de T.I e Telecom, a IoT será responsável por mudar completamente a maneira como trabalhamos, vivemos, nos divertirmos e, principalmente, o modo como as empresas conduzem seus negócios. “É a inteligência embarcada em uma rede crescente de dispositivos hiperconectados que vai, cada vez mais, ligar pessoas e empresas a todo o resto, tornando-se o tecido de uma economia digital”, diz.

Financeiramente, não há dúvidas de que a IoT já movimenta a economia global. Um estudo lançado em 2015 pela Cisco Systems em parceria com a DHL, gigantes da tecnologia e da logística, respectivamente, estima que até 2020 serão 50 bilhões de dispositivos conectados à internet. Atualmente, são 15 bilhões. Se compararmos com a população mundial, que hoje está em 7,3 bilhões, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), já existem mais “coisas” conectadas do que gente no planeta.

Toda essa conectividade, revela o estudo, já está impactando o mundo dos negócios, gerando receitas de cifras estratosféricas. Somente no segmento da DHL, serão originadas receitas impulsionadas pela IoT em torno de US$ 1,9 trilhão nos próximos cinco anos. Na América Latina, o Brasil se destaca. Até 2022 espera-se que a “internet das coisas” deva acrescentar, de forma geral, US$ 352 bilhões à economia brasileira. No levantamento, o País responde por mais de um terço de um total de US$ 870 bilhões em oportunidades na região.

“Trata-se de um ciclo. Com todos os dados que já começaram a ser gerados por meio da IoT e continuam aumentando segundo a segundo, novos processos passam a ser exigidos constantemente para ajudar a compartilhar essas novas informações, o que significa novas oportunidades, até então inimagináveis, para todos segmentos de empresas, independentemente de seu porte”, diz Severiano Leão Macedo, gerente de Desenvolvimento de Negócios de IoT da Cisco para a América Latina.

Contudo, apesar do mercado promissor da IoT, o executivo ressalta que a falta de conhecimento mais profundo sobre o tema ou o medo de realizar a migração de sistemas convencionais para sistemas mais modernos e conectados ao ciberespaço têm feito com muitos pequenos empresários fiquem para trás. “Por achar que as redes de internet não são seguras, muitos preferem a falsa segurança do isolamento de seu próprio negócio a investir em tecnologia e torná-lo competitivo”, afirma.

E sua empresa com isso?

Dentre a infinidade de aplicações da IoT nas empresas, Maria Mônica, da H&M, destaca uma, a chamada “Indústria 4.0”. Com os sistemas cyber físicos permeados de sensores inteligentes, cuja governança é suportada por ferramentas de big data, a gestão totalmente automatizada da produção já é uma realidade em muitos setores. “Os sistemas integrados de produção e controle a partir das informações dos sensores possibilita reduzir os custos com estoques entre 20% e 50%. Além disso, o maior impacto é com a chegada da ‘Manutenção 4.0’, em que processos são baseados na predição, reduzindo-se os custos e habilitando a indústria para fabricação personalizada”, explica.

Já no varejo, a executiva explica que a facilidade de check-out automático (serviços de autopagamento que permitem aos clientes comprar e pagar suas compras em qualquer lugar de uma loja) propiciará às empresas a redução de custos e a realização de promoções em tempo real, mapeando o cliente no próprio local e conhecendo seu padrão de compra, estimando, por exemplo, o quanto ele estará disposto a gastar. “Essas e outras informações geradas possibilitam um CRM inteligente. A otimização de layout, a partir da microlocalização dos clientes na loja física, poderá alcançar a redução de custo entre US$ 79 bilhões e US$ 158 bilhões a nível global”, diz Maria.

Nesse panorama, portanto, as empresas terão funções organizacionais redesenhadas, uma vez que as decisões poderão ser tomadas em qualquer lugar de acesso à internet. Além disso, nesse novo cenário empresarial, os espaços físicos terão aplicações cada vez mais inteligentes, como sistemas de controle de energia, água, segurança e resíduos, bem como aplicações de realidade aumentada, sistemas de identificação facial, sistemas cognitivos, entre outros.

Exemplos reais as tão sonhadas cidades inteligentes, à medida que empresas despertam para as oportunidades da IoT, também se tornarão realidade. Os sistemas hiperconectados a todos os tipos de sensores, incluindo os wearables (termo em inglês para “tecnologias vestíveis”, como as pulseiras inteligentes que monitoram a frequência cardíaca do usuário) servirão para aplicar a IoT na área de saúde, gestão pública, cuidado com idosos, seguro, segurança, gestão de ativos, controle de tráfego, controle de crises e epidemias, carros autônomos, logística reversa, navegação e em infinitas possibilidades desse novo ecossistema.

Engana-se, no entanto, o empresário que pensa que a aplicabilidade da IoT em processos, produtos e serviços é algo apenas para grandes empresas. Saber explorar e aumentar essa conectividade gerará muitas oportunidades e será cada vez mais necessário para maximizar os lucros de qualquer negócio e mantê-lo no mercado, independentemente de seu porte. “Segundo pesquisas e previsões de mercado, pelo menos 50% da receita em IoT virá de startups. A emergência em mudança é tão profunda, que essas mesmas pesquisas já indicam que só 4% das empresas sobreviverão no futuro”, diz Maria Mônica, da H&M Consultoria.

A Chopp Up, startup paulista da área de tecnologia em dispensamento de bebidas, surgiu com a proposta de revolucionar o segmento no País utilizando a IoT como base de seu modelo de negócio. Segundo Rodrigo Moreira, um dos sócios-fundadores da empresa, é corriqueiro, por exemplo, presenciar grandes filas na hora de comprar cerveja durante eventos. “Os equipamentos atuais não fornecem rapidez no serviço nem controle de consumo. É comum também vermos clientes insatisfeitos com a temperatura da bebida, pois os atuais refrigeradores não estão preparados para alto consumo”, diz.

Dessa forma, com o apoio da Desenvolve SP, a empresa criou um inovador dispensador de chope a partir da base do copo. Em relação a outras chopeiras existentes no mercado, a da Chopp Up reduz em até 5% a perda da bebida, além de permitir maior rapidez no atendimento. “Com um enchimento até cinco vezes mais rápido do que uma torneira tradicional, toda operação é feita sem necessidade de uso contínuo das mãos, o que possibilita ao atendente servir até cinco copos ao mesmo tempo”, explica Moreira.

A grande revolução, contudo, está ligada ao sistema inteligente da chopeira. Segundo Moreira, é possível acompanhar remotamente, via aplicativo de celular, todos os dados de consumo, como o número de copos utilizados, quantidade de litros servidos, temperatura do chope, quantidade remanescente no barril e até o tipo mais consumido. Informações consideradas essenciais para um melhor controle de estoque, análise de curvas, picos, tendências, projeções e eventuais problemas.

Na visão macroeconômica, a Chopp Up vai além. “Com esse conjunto de dados associado a outros sensores, como climáticos, de circulação monetária do local e trafego local, podemos gerar algoritmos capazes de produzir um conjunto de informações essenciais a fabricantes de bebidas, distribuidores, revendedores, proprietário do negócio, empresas de pesquisas, entre tantos outros”, completa Moreira.

Iot no mundo

No uso doméstico, a novidade do momento é a geladeira Family Hub, apresentada pela Samsung no início do ano, durante a CES 2016, a maior feira de tecnologia do mundo. Com uma enorme tela de LCD touchscreen, o eletrodoméstico tem como proposta permitir desde o espelhamento de funções de smartphones até o gerenciamento das datas de validade dos alimentos a fim de reduzir o desperdício. Outra característica interessante é poder saber, de qualquer lugar, os produtos disponíveis em seu interior: toda vez que a porta da geladeira é fechada, um sistema de três câmeras registra e envia imagens, com data e hora, aos smartphones autorizados.

Para prover melhorias no transporte público, a London Underground, que administra o serviço de metrô em Londres há mais de 150 anos, é referência mundial. Em parceria com a Telent, CGI e Microsoft, a companhia trabalha constantemente para integrar sensores nos vagões conectados à internet, o que possibilita a detecção de problemas em tempo real, além do controle de sistemas de ar-condicionado, câmeras de vídeo e alertas automatizados. Essas e outras funções têm facilitado reparos cada vez mais rápidos, alocação de pessoal nos lugares e tempo certos e, consequentemente, a redução de custos para o sistema ferroviário.

Quando o assunto é IoT sobre quadro rodas, a Tesla Motors é pioneira no mercado. Em 2014, a fabricante norte-americana de veículos elétricos de alta performance fechou parceria com a AT&T para fornecer conectividade sem fio para seus automóveis. A tecnologia passou a permitir um diagnóstico remoto seguro, mapas e GPS atualizados, acesso a estações de rádios online, além da criação de aplicativos para celulares capazes de controlar a distância algumas funções dos veículos.

Na área da saúde, a Sensorweb, startup especializada em soluções de conectividade e aplicações em nuvem, vem avançando no mercado de IoT ao monitorar remotamente a preservação de produtos críticos, como sangue, vacinas, reagentes e outros medicamentos alocados em mais de 1.500 pontos em nove Estados brasileiros. Em São Paulo, a empresa tem como clientes o Hospital Beneficência Portuguesa, o Instituto Carlos Chagas da Fiocruz e o Instituto do Câncer. De acordo com Douglas Pesavento, CEO e cofundador da empresa, a “internet das coisas” não para de crescer, e o futuro aponta para a conectividade total. “Teremos quase todos os objetos de nosso cotidiano interligados à rede, e na área da saúde o uso desse tipo de tecnologia vem crescendo de forma acelerada”, diz.

Fonte: Revista DesenvolveSP – edição 4, p.11