Comece a inovar agora!

19/06/2017

A velha desculpa de esperar o momento certo pode fazer sua empresa perder oportunidades e bons negócios

Luís Veloso

Ideias inovadoras surgem dos insights de cabeças criativas, sejam elas de empreendedores ou de colaboradores. Quando se tem um ambiente propício à inovação, o importante é não perder nenhuma ideia e, sobretudo, colocá-la no papel. Testar, medir, insistir, tentar errar, aprender com os erros, partir para a próxima, o desafio de inovar deve ser um ciclo contínuo e pode ser mais simples do que parece. Vale apontar, logo de início, que ao contrário do que muitos empreendedores pensam inovação não é só tecnologia. Segundo Maximiliano Carlomagno, especialista em inovação e colunista da Endeavor e 3M, uma empresa pode inovar atendendo outros clientes, redesenhando processos, ofertando novos produtos, desenvolvendo formas novas de chegar aos clientes. “O importante é ter uma visão ampliada da inovação. Não somente como produto ou tecnologia, que são os dois paradigmas fundamentais a serem quebrados”, diz.

Diferentemente de uma grande empresa, que tem processos e uma área formatada para inovação, nas pequenas e médias empresas (PMEs) ela passa pelo próprio empreendedor e seus poucos colaboradores. Vem das ideias e oportunidades capturadas, muitas vezes da “barriga no balcão”, sem terem consciência de que estão buscando e realizando projetos inovadores. Para estes, a primeira tarefa antes de tirar uma ideia do papel, é colocá-la lá. Testar, prototipar e pesquisar ideias semelhantes e seus resultados.

Líder do centro de Inovação da Ernst & Young Brasil, Denis Balaguer, acredita que o desafio da inovação é entender o que as pessoas precisam, mas ainda não conseguem articular. E a busca pelas soluções deve explorar ideias de forma diversa e variada. “É importante olhar um vasto número de ideias primeiro para depois convergir, sob pena de explorar apenas o que já é natural e sabido. É importante experimentar e prototipar soluções, de forma que as premissas e expectativas possam ser testadas”, diz.

Mão na massa!

Ao partir para a ação é essencial olhar a inovação como um elemento central do negócio. É importante abandonar alguns mitos, como o do “indivíduo supercriativo”, ou de que basta um “programa de ideias” ou mesmo que inovação é algo muito caro, ligado a tecnologia, por exemplo. A inovação precisa ser sistematizada por meio de processos, competências, governança e cultura.

Para isso, há muitas ferramentas de sistematização da inovação, como técnicas de gestão de pipeline, ideação, design thinking, mas acima de tudo é fundamental trabalhar a cultura da empresa. “Inovar, muitas vezes, significa ir contra a rotina e os mecanismos de incentivos das empresas. Por isso, sistemas de governança e accountability bem estabelecidos, com métricas e indicadores claros para fomentar a inovação como processo de negócio, são fundamentais”, diz Balaguer.

Na Geoambiente, empresa de monitoramento remoto de São José dos Campos, a inovação é tratada como prioridade desde sua fundação. “Hoje temos um ambiente que incentiva a busca de novas maneiras de executar nosso trabalho. Nossa equipe tem muitos mestres ou doutores, com a experiência de pesquisa e inovação, que interagem com todos os colaboradores na execução dos serviços na empresa, colaborando para que a visão da inovação se estenda a todos”, diz Izabel Cicarelli, sócia-proprietária. A empresa financia na Desenvolve SP uma nova plataforma tecnológica em nuvem, para acesso e visualização de dados e informações georreferenciadas.

Por que as PMEs não inovam? De acordo com a Pesquisa de Inovação do IBGE (PINTEC 2014), os obstáculos de natureza econômica voltaram a se sobressair como os principais entraves para inovação nas empresas. O custo, como sempre, ocupou o primeiro posto (assinalado por 86% das empresas industriais), seguido pelos riscos (82,1%) e pela escassez de fontes de financiamento (68,8%).

Entretanto para Balaguer, a principal barreira para a inovação não é técnica nem financeira. O obstáculo central é que inovar implica mudanças. “Muitas vezes é mais fácil dizer que falta dinheiro, do que admitir que não conhece as ferramentas para fazer. Sim, falta dinheiro, às vezes falta até para operar, o que dizer para inovar, é difícil responder a uma pesquisa que há falta de capacidade”, afirma Carlomagno. “Existe muitas vezes a ideia de os recursos serem o bode expiatório da inovação, mas é possível fazer muita coisa com baixo investimento, uma delas é dividir o risco da inovação com outras empresas.”

Algumas ferramentas para inovação

Job Rotation: Os colaboradores podem se candidatar para funções em outras áreas. Dessa forma, eles podem explorar novos universos de conhecimento, estabelecer novos contatos, absorver conceitos e maneiras diferentes de realizar o trabalho. Em contrapartida, eles carregam consigo seu repertório e suas experiências que também vão influenciar sua nova área de trabalho, proporcionando uma integração com grande potencial inovador.

Teoria dos 15%: A Teoria dos 15% é uma filosofia que estimula a inovação cedendo 15% do tempo do expediente dos colaboradores para projetos de inovação, empreendedorismo e criatividade, desde que esses projetos sejam relacionados ao negócio da empresa. A pratica é aplicada em empresas como a 3M.

Scamper: Possibilita criar novas versões de um produto ou serviço ou, ainda, gerar uma ideia totalmente diferente, que pode mudar os rumos de uma organização. É um recurso que serve para guiar o empreendedor na realização de uma sessão de brainstorm com os funcionários a respeito de novos produtos e serviços, por meio de um questionário em que se explora todo o potencial e aplicação de cada produto ou serviço, e se verifica o que pode ser melhorado, potencializado ou até descartado.

Fonte: Revista Desenvolve SP – edição 5, p.32