Mesmo sendo essencial para qualquer empresa, o plano de negócios ainda é artigo secundário na cabeça da maioria dos gestores de pequenas e médias companhias
Que ações para melhorar a eficiência de sua empresa serão postas em prática daqui a um mês? E daqui a um ano? E a cinco? Seu cliente se manterá o mesmo nesse período? Quais os investimentos necessários para expandir sua atuação no mercado? Encontrar as respostas para essas e outras perguntas permite que o gestor esteja preparado para surpresas – agradáveis ou não. Num mundo cada vez mais competitivo e clientes mais exigentes, a falta de um plano bem definido do caminho a seguir pode comprometer até mesmo a viabilidade da empresa.
Importante para traçar os rumos da empresa e auxiliar o gestor na tomada de decisões, o plano de negócios é um documento que deve definir e detalhar os objetivos da empresa e quais as ações serão executadas para alcançá-los. A finalidade dessa ferramenta é ter uma visão ampla dos processos, dinâmicas de atuação e possíveis desafios, tornando o empresário capaz de evitar ou minimizar eventuais problemas que apareçam no percurso.
“É comum encontrar empreendedores que não tenham seu plano de negócio. Mas, com a economia cada vez mais dinâmica, o planejamento passa a ter ainda mais importância”, afirma Carlos Bizzotto, coordenador de projetos da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). O plano de negócios precisa detalhar com exatidão todos os aspectos da empresa, ser uma verdadeira radiografia da gestão. “Quem for decidir a partir desse conteúdo, tem de encontrar nele a realidade. Um bom entendimento do ambiente de negócios é fundamental para atingir metas”, afirma Leonardo Toscano, sócio-diretor da Excelia Consultoria.
Além do sonho
Antes mesmo de desenhar um planejamento, o empresário precisa estar atento ao modelo de negócio escolhido para a empresa. Segundo especialistas, é fundamental ter conhecimento do setor e absoluta certeza sobre o rumo que o empreendedor quer dar para sua empresa.
Para Paulo Roberto Feldmann, docente da Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP, e presidente do Conselho da Pequena Empresa da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio), a grande maioria dos empresários erra justamente por não entender o setor no qual está inserido. “Não é algo trivial. É preciso saber quem são os concorrentes, os fornecedores, onde as matérias primas estão, como conseguir mão de obra, calcular os custos. Tudo isso ajuda a formatar e entender todo o processo”, diz.
Já na fase de planejamento, em que o empresário vai definir suas metas e como alcançá-las, torna-se necessário um conhecimento profundo do mercado. Segundo Toscano, fazer uma análise do setor é a primeira providência a ser tomada na hora de pôr o plano de negócios no papel. “Só a descrição do produto ou do serviço não é suficiente. É preciso que esse planejamento contenha um estudo aprofundado do setor”, diz Toscano.
Luiz Arnaldo Biagio, professor de empreendedorismo e gestão de negócios da Business School São Paulo (BSP), diz que é comum o empresário ficar preocupado com as questões técnicas de seu produto e se esquecer de verificar a aceita- ção no segmento. “Um dos maiores erros é achar que sua ideia é única. Que é a melhor do mundo e não tem por que o cliente não comprar. Atirar-se no negócio sem imaginar que essa percepção é só dele pode ser desastroso.”
Experiência própria
Altino Cristofoletti Júnior, só- cio-diretor da Casa do Construtor, nunca deu um passo adiante sem antes pôr tudo no papel. “O primeiro plano era muito simples. O foco era entrar em cidades da região com menos de 100 mil habitantes, onde não houvesse concorrente”, diz. Mas, quando viu que o crescimento da empresa estava mais acelerado do que o previsto, entendeu que o planejamento deve ser continuamente revisto e atualizado, pois nem tudo o que é previsto acaba se concretizando.
A rede de lojas de aluguel de equipamentos iniciou suas atividades na cidade de Rio Claro, em 1993. Idealizada para ter 20 lojas no interior paulista, hoje conta com mais de 200 em todo o Brasil e tem a meta de chegar em 2020 com mil unidades inauguradas.
Cristofoletti diz que o plano de negócios sempre exerceu papel fundamental nesse crescimento, e foi sendo aperfeiçoado à medida que as coisas aconteciam. Para o empresário, foi esse planejamento de curto, médio e longo prazo que acelerou a expansão do negócio. “Hoje passo mais tempo trabalhando em melhorias do que apagando incêndio”, afirma.
Com foco na gestão, ele criou outra empresa, a Formatta Negócios – especializada em administrar toda a rede da Casa do Construtor. Com um modelo de ação exclusivo, a empresa criou um novo software para ser utilizado em todas as lojas. Para concretizar a inovação, Cristofoletti procurou a Desenvolve SP.
“Sem um financiamento com boas condições, ainda estaríamos desenvolvendo o sistema. Com os R$ 450 mil que obtivemos na agência de desenvolvimento podemos viabilizar o projeto. Neste ano vamos trabalhar na implantação”, conta o empresário.
Coloque em prática
Um plano de negócios tem cerca de 50 páginas e elenca as estratégias operacional, financeira e de marketing. Quando bem estruturado, pode até servir como garantia em linhas especiais de financiamento. É com esse documento que o empresário calcula quando, quanto e onde investir, quando contratar, como negociar o estoque, precificar produtos ou serviços. Para ajudar, existem consultorias e softwares que cabem em qualquer caixa e atendem a todas as necessidades (veja dicas).
Mas Samy Dana, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, faz um alerta: “Sem o engajamento do empresário em tornar factíveis os planos de ação propostos, nada virará realidade fora do papel.”.