Ícone do site Desenvolve SP

O lado b das empresas

Um movimento global que tem como princípio fortalecer negócios com propósitos sociais e ambientais, mudando o conceito de sucesso, cresce no Brasil e no mundo

Por Taluama Cabral

Ser a melhor empresa para o mundo e não a melhor do mundo! Essa é a essência do Sistema B, um movimento global que vem crescendo nos últimos anos com a missão de certificar negócios com propósitos sociais e ambientais: as chamadas Empresas B. Para essa nova corrente, é fundamental redefinir o conceito de sucesso, focando na combinação entre o lucro e o bem-estar das pessoas e do planeta. Isso significa que, em vez de maximizar os ganhos do proprietário ou acionista, quem se engaja nessa ideia se compromete em beneficiar toda a cadeia: fornecedores, colaboradores, investidores e consumidores. “Esses empreendedores não fazem isso para seguir uma tendência. São movidos pelo desejo autêntico de contribuir para a construção de uma sociedade melhor”, sintetiza Priscila Claro, professora de Sustentabilidade nos Negócios do Insper. É uma prática que transcende o discurso e a imagem, diz respeito à identidade.

“Ser B é sair do campo das intenções, é firmar compromissos”, explica Marcel Fukayama, diretor executivo do Sistema B no Brasil. “O caminho para maximizar lucros implica, necessariamente, em minimizar custos. E, ao minimizar custos, a tendência é as empresas serem negligentes quanto aos impactos que causam. Nossa proposta é que elas olhem para todas as dimensões de maneira integrada”. Fukayama conta que o momento atual do país, principalmente em relação ao compliance, tem estimulado a procura por certificação. “As empresas querem medir seu impacto e ter uma ferramenta que as ajude a melhorar todos os dias”, salienta. Ele acrescenta que isso é positivo também para os investidores, pois os riscos são mitigados, já que para obter o selo “B” é preciso atender a padrões rígidos de desempenho social e ambiental, responsabilidade e transparência.

PROPÓSITO COM LUCRO

Gustavo Fuga, de 25 anos, é um dos representantes dessa nova safra de empreendedores. Ele se inspirou na própria trajetória para criar a 4YOU2, rede de escolas de inglês de baixo custo na periferia de São Paulo. Quando começou a cursar economia na Universidade de São Paulo (USP), em 2011, Fuga auxiliava na organização de estágios no exterior. “Eu me via fazendo intercâmbio sem ter viajado”, diz. Foi então que ele se deu conta de que poderia ajudar jovens carentes a aprender inglês. Um ano depois, abriu a 4YOU2, no Capão Redondo, extremo Sul da capital. De lá para cá, inaugurou seis filiais, por onde passaram 10 mil alunos e 350 professores de mais de 40 nacionalidades.

“Criamos um curso barato e promovemos intercâmbio nas escolas e nas famílias que hospedam os professores estrangeiros”, conta. Com apoio da tecnologia, houve automatização de processos e redução de custos – os livros, por exemplo, foram substituídos por um aplicativo. A 4YOU2 não revela seu faturamento. Mas Fuga deixa claro que sua prioridade é espalhar conhecimento. Mercado há. Apenas 5% dos brasileiros falam inglês, segundo pesquisa do British Council.

QUESTÃO DE IDENTIDADE

O selo “B”, de “benefícios”, nasceu há 12 anos nos Estados Unidos, e já foi exportado para 67 países. Mais de 2.500 empresas no mundo todo, sendo 367 da América Latina, aderiram. Natura, Ben & Jerry’s, Etsy e até fundos de investimento, como os bilionários Capricorn Investment Group e Generation Investment Management, do ex-vice-presidente americano Al Gore, são alguns dos expoentes desse grupo. No Brasil há pouco mais de cinco anos, o Sistema B conta com 110 empresas, sendo 70% pequenas e médias. Uma delas é a startup paulista 99Jobs. Criada para “ajudar as pessoas a fazerem o que amam”, a plataforma de recrutamento conecta profissionais e empresas tomando como base seus ideais, e não apenas as aptidões exigidas para o cargo.

“Uma habilidade técnica é relativamente simples de adquirir, mas pessoas que se identifiquem com os valores de uma organização, nem tanto – e é para isso que existimos”, diz Hugo Kovac, CFO da 99Jobs. O sistema da empresa é semelhante ao usado por alguns sites de relacionamento: o matching. Há um cruzamento da personalidade profissional e pessoal do usuário com empresas cadastradas. “Possibilitamos que pessoas explorem oportunidades, que realmente combinem com elas, e proporcionamos um canal onde empresas possam mostrar-se mais próximas, humanas e abertas a dialogar”, diz Kovac.

Mas não são apenas negócios certificados que buscam boas práticas. Empreendedores de diversas áreas também têm se destacado. É o caso da Lola Cosmetics, marca vegana de cosméticos para os cabelos, fundada há cerca de cinco anos. “O compromisso de crescer de maneira que não comprometa o futuro do planeta é parte da nossa responsabilidade, por isso nos esforçamos para ter produtos de origem vegetal, orgânicos e ecocertificados, não testados em animais”, explica Dione Vasconcellos, proprietária da empresa, que nasceu focada em profissionais de beleza e hoje faz sucesso também no varejo. Anna de Souza Aranha, diretora da Quintessa, aceleradora de negócios de impacto, ratifica que esse é o caminho: “Empresas lucrativas, escaláveis e que solucionam desafios sociais e ambientais relevantes estão se tornando cada vez mais comuns”.

 

Fonte: Revista Desenvolve SP – edição 6, p. 36

Sair da versão mobile