Se você nunca pensou em dar esse passo, saiba que com planejamento e inovação é possível transpor as fronteiras internacionais e crescer ainda mais
China, Japão, Alemanha, Estados Unidos. Entrar no mercado internacional ainda é um desafio para a maioria das pequenas e médias empresas (PMEs). Levar o produto para além das fronteiras nacionais pode alavancar o negócio. Mas para conquistar o mundo é preciso muito profissionalismo, planejamento e disposição para inovar.
Embora as PMEs representem 98% das empresas brasileiras e o maior volume em exportações, segundo levantamento realizado pelo Sebrae, em valores correntes elas representam menos de 10% do total. Em 2011, dos US$ 29,8 bilhões registrados em exportações no Brasil, apenas US$ 2,2 bilhões foram referentes a negociações das PMEs.
Um dos motivos dessa pouca representatividade, segundo Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), é a baixa competitividade dos produtos exportados pelas empresas nacionais. “Para se destacar no comércio exterior é preciso oferecer muito mais que um produto a preço competitivo – algo que as empresas chinesas já fazem. Produtos inovadores e de qualidade é o que vale como ingresso e permanência no mercado atual”, diz.
Antes mesmo de uma empresa passar a exportar, existem fatores que interferem diretamente em sua capacidade de se tornar competitiva. Para Gilberto Campião, consultor de comércio exterior do Sebrae-SP, os dois principais são a falta de bom senso e de planejamento de muitos empresários. “Se os negócios vão mal no Brasil, é ilusão achar que internacionalizar a empresa vai ajudar. Partir para um mercado altamente competitivo requer investimentos constantes, e se a empresa não tiver estrutura suficiente, mesmo que não quebre, terá dificuldades”, ressalta.
“Às vezes, mesmo com estrutura, empresários ansiosos agem na pressa e não realizam um plano estratégico adequado, podendo pôr tudo a perder”, afirma Campião. Fundamental ao planejamento, a pesquisa de mercado é o que poderá identificar se o produto de uma empresa é exportável ou não, além da existência de possíveis consumidores, concorrentes e oportunidades.
Depois de pesquisar, planejar e comprovar as condições para se tornar um exportador, ainda falta realizar as adaptações necessárias do produto para atender às exigências dos países importadores. “O empresário precisará adequar sua embalagem levando em consideração o idioma do país de destino, questões culturais, design e a preservação do produto durante a estocagem, transporte e distribuição final”, observa Campião.
Além de empresas terceirizadas que podem ser contratadas para ajudar nessa árdua tarefa, no Estado de São Paulo o empresário pode recorrer ao Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O órgão do governo do Estado oferece suporte sobre como remodelar processos e produtos para atender às especificações do cliente. “Do pedido à entrega da encomenda, nosso objetivo é diagnosticar gargalos na gestão da empresa e propor soluções tecnológicas que aumentem a competitividade”, explica Mari Katayama, diretora do Núcleo de Atendimento a Micro e Pequenas Empresas do IPT.
Lançado há 15 anos, o Progex já realizou mais de mil adequações de produtos em São Paulo e tornou-se nacional em 2001, quando o IPT firmou parceria com o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para ampliar o programa e prestar assistência tecnológica às micros e pequenas empresas em todo o Brasil.
No caminho certo, o empresário Alexandre Lopes, 58, sempre teve como objetivo da Aditek, empresa fundada em 1990 em Cravinhos, interior de São Paulo, inovar no cenário da ortodontia mundial, priorizando, desde o início, a pesquisa e o desenvolvimento de produtos tecnologicamente avançados.
“Nascemos com a intenção de exportar, mas não foi fácil. Muitos países exigem propriedade intelectual sobre o produto a venda. Só passamos a ganhar o mercado internacional depois de criar e patentear nos Estados Unidos nosso produto”, conta. O feito, conquistado em 2008, tornou a Aditek a primeira empresa brasileira de ortodontia a obter uma patente internacional. Com a conquista, ganhou visibilidade mundial, passando a exportar para os cincos continentes. “A vantagem de inovar é agregar valor a seu produto.”
Para dar conta da demanda, que passou a crescer consideravelmente, o empresário buscou um financiamento de longo prazo na Desenvolve SP, a fim de realizar a compra de maquinário e aumentar a produção. Segundo previsão da empresa, as exportações, que hoje representam 50% da receita, devem crescer para 70% até o fim de 2014. Com os bons resultados, planeja abrir ainda este ano a primeira loja fora do País. “Pretendemos começar pelos Estados Unidos. Será um marco sem precedentes para a história da empresa”, afirma Lopes.
Logística é fundamental
Muito mais simples nos dias atuais, o trâmite para que pequenas e médias empresas sejam autorizadas a operar no exterior leva, em média, 30 dias. O empresário entra em contato com a Receita Federal do Brasil (RFB) e solicita o registro no Siscomex, conhecido como Registro Radar, um sistema integrado que acompanha e controla o comércio exterior em todo o País. Com a autorização e o plano de negócios em mãos, as tratativas com os importadores prospectados já podem ser iniciadas.
No entanto, como ninguém gosta de comprar um produto e ter dor de cabeça com prazos de entrega, desvios e até o não recebimento da encomenda, é imprescindível que o empresário tenha um bom sistema de logística. Cumprir o pedido de um comprador até o fim do contrato é fundamental. Um mínimo erro logístico pode fazer com que a mercadoria fique parada no porto e gere multas vultosas para a empresa, que, além de possivelmente perder o negócio, correrá sérios riscos de manchar sua credibilidade com outros clientes.
Para Carlos Rehder, um dos proprietários da Novo Mel, pequena empresa paulistana fabricante de produtos apícolas e cliente da Desenvolve SP, quanto mais o empreendedor se especializar para poder atender à demanda internacional, mais deve se preocupar com a logística de entrega de seu produto. “No começo, levávamos cerca de 30 dias para produzir e ‘estufar’ um contêiner. Hoje, após investimentos em adequações, reduzimos esse período para uma semana. Para dar conta de toda a logística que isso envolve, ter um bom despachante aduaneiro como parceiro é crucial para conseguir atender a prazos e contratos”, diz.
De acordo com Moyses Neva, advogado do escritório MG Logistics, especializado em direito aduaneiro, ter o bom domínio dos Termos Internacionais de Comércio (Incoterms) faz toda a diferença na elaboração de contratos de compra e venda. “Na prática, são tratados sobre os direitos e obrigações do exportador e importador com o objetivo de esclarecer, por exemplo, quem contratará o seguro da operação, onde o exportador deverá entregar a mercadoria e quem arcará com os fretes, custos e até mesmo com os riscos em caso de perdas e danos”, explica.
Uma alternativa para o pequeno empresário que deseja realizar exportações de valores baixos e não volumosas (limite máximo de 30 kg) é o Exporta Fácil, serviço prestado pelos Correios que se responsabiliza por todo o trâmite alfandegário e de transporte da mercadoria. Com um limite de até US$ 50 mil por remessa, o exportador preenche apenas um formulário de postagem e conta com uma rede de distribuição presente em mais de 215 países.
“A um custo muito mais acessível, o Exporta Fácil abrange empresas de todos os segmentos, salvo para o envio de determinados materiais e substâncias proibidas pela Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) e legislações postais de cada país. Além dos Correios, companhias como Fedex, TNT, DHL e UPS oferecem serviços muito semelhantes”, ressalta Neva.