Será que tenho o perfil para abrir meu próprio negócio? Como devo me planejar para ser empreendedor? Vou ganhar mais dinheiro abrindo uma empresa?
Essa e outras muitas perguntas passam – ou já passaram pela cabeça de quem pensa em começar a empreender, ou mesmo de que já é dono do próprio negócio, mas sente que ainda pode aprender, melhorar e crescer. Por isso, fizemos sete perguntas para Paola Tucunduva, sócia da empresa Rotovic, instrutora do Empretec/Sebrae programa comportamental desenvolvido pela ONU, professora da Fundação Dom Cabral FDC e apresentadora do programa Alma do Negócio.
1 – Como você tornou-se coaching de pequenas e médias empresas? O mercado foi uma escola?
Na verdade, sim, o mercado foi a minha escola. Hoje eu tenho 25 anos de experiência como empreendedora. Nada melhor do que a experiência de tocar o dia a dia de uma empresa para compartilhar com as pessoas. E em paralelo, eu sou facilitadora do Empretec, que é uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios que ensina as características de empreendedores de sucesso. São mais de 1,5 mil empreendedores com os quais tive a oportunidade de contribuir e ajudá-los a entender o que estavam fazendo de errado e como mudar para ter um resultado melhor. Além disso, desde 2010 eu me dedico exclusivamente ao coaching de pequenas e médias empresas, que é o seguimento no qual eu tenho conhecimento, experiência e posso fazer a diferença.
2 – Existe um segmento de mercado que seja ideal para quem deseja começar um empreendimento?
Eu acredito que o que faz a diferença no resultado de um empreendedor é o seu comportamento. Na verdade, não só eu acredito nisso, como o professor de Harvard, David McClleland, ao longo da sua vida se dedicou ao estudo do comportamento humano, inclusive de empreendedores, e que o que diferencia uma pessoa que tem sucesso, de uma que fracassa, é a prática do comportamento e atitudes. Claro que existem segmentos que têm um potencial de resultados maior do que outro, mas acredito que é muito mais válido trabalhar no comportamento pessoal, do que ficar buscando um nicho de mercado mais lucrativo. O empreendedor não deve ter a ilusão de que basta escolher um mercado com muito potencial, que ele irá ganhar dinheiro com esse negócio.
3 – Quais os erros mais comuns entre pessoas que decidem começar a empreender?
Já comecei a responder na pergunta anterior (risos). Na minha opinião, um dos maiores erros é justamente esse, o de buscar um segmento ideal, o negócio que vai gerar dinheiro. E, normalmente, o empreendedor que monta um negócio por causa do dinheiro, tende a fracassar. São os chamados empreendedores por necessidade, e esses, tendem a ter piores resultados em suas empreitadas.
4 – Existe algum perfil de pessoa que seja mais propenso a fazer o próprio negócio ou todos podem tornar-se empreendedores?
Eu, como coaching, acredito na possibilidade de desenvolver empreendedores de sucesso. Mas é bom desmistificar alguns pontos. Usando uma escala de zero a dez, existem pessoas que em termos de força empreendedora, estariam entre zero e três. Essas pessoas têm uma tendência maior a sofrer caso invistam no mercado empreendedor porque elas teriam poucos resultados.
Já as pessoas que estão na faixa de quatro a sete, são pessoas com mais perfil empreendedor, que eventualmente podem não atingir os melhores resultados por alguma deficiência de planejamento ou de preparo. Essas pessoas, se procurarem programas de aperfeiçoamento do comportamento empreendedor podem chegar a um potencial excelente com ganhos extraordinários.
Aqueles que estão na faixa acima de sete, são os chamados em empreendedores natos. Reúnem as características primordiais para gerir um negócio de uma forma natural. Segundo estudiosos e pesquisadores apenas 2% da população têm esse perfil.
O mundo de hoje, às vezes, acaba criando a falsa ideia de que todos têm que torna-se empreendedores e eu não acho isso justo, porque esse é um mundo no qual a pessoa precisa ter uma predisposição a se aventurar, correr riscos ainda que calculados.
5 – As mulheres tendem a se destacar mais como empreendedoras?
As pesquisas de mercado mostram que o número de mulheres que iniciam novos negócios já é maior do que o de homens. Porém, é importante ressaltar, essas pesquisas apontam apenas os dados referente a abertura de novas empresas. O número total de empreendedoras atuando no mercado ainda não é maior do que os números e homens.
Ainda falta, por exemplo, a presença feminina, em eventos nos quais empreendedores contam suas histórias de sucesso. Talvez as mulheres por conciliarem várias atividades com os negócios, ainda deixem a desejar no item divulgação de suas histórias de sucesso.
6 – Como coaching você trabalha apenas com novos empreendedores ou também existe muito a se ensinar para quem já está no mercado?
Meu trabalho é focado em empreendedores de pequena e médias empresas (PMEs) e acabo atendendo muito mais empresários que já têm uma certa experiência de mercado. Isso porque no Brasil temos um número muito grande de PMEs, entretanto muitas delas não estão obtendo bons resultados. Então, é comum que esses empreendedores busquem qualificação para potencializar a atuação de suas empresas. Para os que estão começando essa percepção ainda é mais difícil.
7 – Quais os obstáculos mais comuns para empreendedores em tempos de crise e como superá-los?
O maior obstáculo nesses momentos de crise é justamente a queda das vendas e de faturamento, somado às despesas que continuam as mesmas e acabam levando a empresa ao prejuízo. Isso se agrava porque normalmente o empreendedor brasileiro não se planeja, ou seja, não faz uma reserva financeira para enfrentar esses períodos turbulentos. O que acaba levando a empresa, o empreendedor e – muitas vezes – até sua família a uma situação muito delicada.
Para enfrentar esses momentos de crise o primeiro ponto é acreditar que existe uma saída e que possível mudar. A partir daí, é preciso coragem, persistência e criatividade para encontrar novos caminhos. Só existem três alternativas para isso: aumentar o faturamento, reduzir as despesas ou as duas coisas juntas.