“É a economia (verde), estúpido”
Há 20 anos, os empreendedores se preocupavam basicamente com o lucro. Hoje, já tratam os impactos do negócio no meio ambiente como prioridade
“It’s the economy, stupid”, a célebre frase original do título, em inglês, cunhada por James Carlille, estrategista da campanha do então candidato Bill Clinton à Casa Branca, em 1992, resumia a importância que a economia tinha para o momento vivido nos Estados Unidos à época, que enfrentavam uma preocupante recessão. Hoje, essa mesma expressão, acrescentando a temática verde, pode ser usada para exemplificar o pensamento de muitos especialistas: o de que não há crescimento econômico sem sustentabilidade ambiental.
Aumentar o lucro deixou de ser a única preocupação dos empresários. O empreendedor consciente divide hoje sua atenção com outro fator primordial para que negócios sobrevivam no longo prazo: a preservação dos recursos naturais.
Ao buscar reduzir seus impactos no planeta, as empresas garantem a oferta de produtos e criam novos mercados. A Economia Verde impulsiona novos serviços e modelos de negócios que irão sobreviver e se destacar com o passar dos anos.
Especialistas são unânimes em afirmar que a agenda da Economia Verde veio para ficar. Indicam ainda a existência de um movimento gradativo de maior engajamento nessa área.
“Os estudos mostram que os empresários têm uma preocupação cada vez mais crescente com a temática ‘sustentabilidade’. Qualquer planejamento estratégico ou análise, sob a ótica das mudanças ambientais, impactam o futuro das organizações. Há uma conscientização maior da necessidade de reorientar as atividades”, avalia Mauricio Turra, professor de Responsabilidade Socioambiental da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Foi por colocar a preocupação ambiental como norte para definir os rumos a seguir que a Intelli desenvolveu uma máquina que une metais sem a necessidade de passar por nenhum processo químico.
O produto, além de reduzir os insumos tóxicos, eliminou a necessidade do uso de uma grande quantidade de água. As mudanças impactaram diretamente nas contas da empresa, pois o processo ficou mais barato e tornou a produção mais rápida.
A líder nacional de equipamentos de aterramento ficou mais competitiva e, assim, pôde brigar diretamente com concorrentes estrangeiros. “Já sentimos uma reação do mercado internacional não só pela qualidade do produto, mas por seu apelo verde”, diz Chiara Degiovanni Spedicato, diretora administrativa.
Para implantar as mudanças que levaram a essa nova postura corporativa e abriram portas para atuar em outros mercados consumidores, a Intelli foi buscar financiamento na Linha Economia Verde, da Desenvolve SP. São recursos destinados a projetos sustentáveis, com potencial de promover uma significativa redução de emissões de gases de efeito estufa, tanto para os setores privados quanto para as administrações municipais paulistas.
A linha, feita para atender empresas com faturamento anual a partir de R$ 360 mil, conta com juros a partir de 0,41% ao mês, mais atualização pelo IPC-Fipe. Os prazos podem chegar a 10 anos, com 24 meses de carência. Até junho de 2013, a agência liberou mais de R$ 62 milhões somente nessa modalidade.
Políticas públicas
A oferta de crédito para projetos mais sustentáveis mostra o apoio do Governo do Estado de São Paulo no incentivo de ações ligadas ao tema e ao crescimento de uma Economia Verde.
Isak Kruglianskas, professor da pós-graduação em Gestão Socioambiental para a Sustentabilidade da FIA/USP, considera que o movimento atual das empresas por uma postura sustentável é resultado dessas mudanças legislativas que vêm ocorrendo desde a Eco 92 e da assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997. Mas, segundo ele, os empresários ainda associam projetos socioambientais a altos investimentos, o que inibe iniciativas mais arrojadas.
Josilene Ferrer, coordenadora da pós-graduação em Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Questões Globais da FAAP, concorda que é preciso mudar essa percepção, para que mudanças estruturais na maneira de gerenciar negócios ganhem agilidade.
“Ser sustentável significa ser eficiente. Precisa ser inteligente. Não estamos falando de investimentos milionários, e sim em algo que envolve logística, planejamento e transporte. Isso não é caro. É só implantar práticas mais modernas”, afirma. Para Josilene, ações para trazer eficiência à produção ou implantar medidas que reduzam o desperdício apresentam resultados que duram para sempre.
Novos mercados
Uma postura verde das empresas também fomenta a abertura de segmentos de atuação inéditos, em larga escala. Indústrias que precisam tratar seus resíduos, por exemplo, têm de contratar outra, especializada nesse serviço, para conseguir atender às exigências legais que vêm surgindo.
A Polo Ambiental, localizada em São José dos Campos (SP), que trata os efluentes de mais de 80 companhias é um exemplo disso. “Além de economicamente muito mais favorável, na hora em que você apresenta uma solução para transferir o problema ambiental dela a um terceiro, é de uma comodidade tremenda”, diz Moacyr de Azevedo Silva Filho, diretor institucional da companhia, que usou os recursos de um financiamento da Desenvolve SP para ampliar suas instalações.
A preocupação com o descarte de materiais também motiva investimentos da Marcamp, empresa de Campinas cujo carro-chefe é a venda e locação de empilhadeiras. De olho na Economia Verde, a empresa encaminha baterias, óleo, pneus e estopas para companhias credenciadas pelo governo, além de estar construindo a nova sede totalmente alicerçada em conceitos sustentáveis como redução do uso de energia elétrica e reaproveitamento de água.
A empresa ainda utilizou os recursos obtidos com o financiamento da Linha Economia Verde, da Desenvolve SP, para investir em uma frota totalmente movida a etanol. Ana Carolina Herrera, analista de processos, conta que, com a iniciativa, a Marcamp já reduziu em mais de 126 toneladas a emissão de CO² (Dióxido de Carbono). O cálculo é feito pela empresa que fornece o combustível.
Emissões
Medir a chamada “pegada verde” do negócio é também terreno de atuação de empresas especializadas.
A Eccaplan desenvolve projetos de compensação e quantifica a emissão de gases de efeito estufa. Entre os que contratam o serviço estão empresas, organizações sociais e até personalidades públicas como os cantores Elton John e Robert Plant.
“Como você nunca vai conseguir reduzir 100% o impacto ambiental, nossa primeira etapa é quantificar as emissões e reduzi-las. O que não é possível reduzir, a gente compensa apoiando outro projeto de tecnologia limpa”, explica Fernando Beltrame, proprietário da Eccaplan.
A etapa final desse procedimento seria comercializar os créditos de carbono gerados nessa compensação, no âmbito do Protocolo de Kyoto. Mas essa negociação só é possível em grandes quantidades, e isso dificulta o processo.
O caminho para empresas menores ou que não produzem créditos em larga escala é acumular os que são produzidos mensalmente em um histórico, e, quando este atingir o montante necessário, negociá-los. É uma forma de gerar recursos financeiros diretos com a iniciativa, explica Beltrame.
Para auxiliar o empresário a negociar esses créditos, a Desenvolve SP tem parceria com um fundo alemão KfW, para incentivar a transação entre as empresas paulistas e bancos alemães que realizam operações com créditos de carbono, assessorando a adequação às normas internacionais.
Dessa forma, qualquer empresa pode ser sustentável, pois mudanças de comportamento e de produção não são acessíveis somente a grandes companhias.
O inventário de emissões pode ter outras utilidades também, como sinalizar as mudanças necessárias para uma empresa tornar-se eficiente e sustentável, antes mesmo de pensar em como esses créditos podem ser comercializados.
Política de Mudanças Climáticas
Responsável pelo estudo que resultou na Política Estadual de Mudanças Climáticas, o ex-secretário do Meio Ambiente José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, faz um balanço positivo da legislação.
Segundo Goldemberg, são normas que acompanham e incentivam toda uma mudança cultural, que só tende a avançar. No entanto, faz um apelo para que o mundo corporativo seja ainda mais entusiasmado com as temáticas de sustentabilidade e perceba as oportunidades ligadas ao tema.
Para o especialista, as ações ainda estão muito ligadas aos ganhos econômicos em curto prazo, e essa preocupação deveria ser consequência de novas posturas, e não o estopim das mudanças.
Goldemberg ainda lamenta que a crise europeia tenha provocado uma queda no mercado de carbono. “Isso deixa evidente que a preocupação de longo prazo com o meio ambiente ainda é secundária.”
Linha Economia Verde
R$ 360 mil de faturamento anual mínimo
Taxa a partir de 0,41% ao mês (+IPC/Fipe)
Até 120 meses para pagar*
Até 24 meses de carência
Financia até 100% do projeto
Para saber mais, acesse o site www.desenvolvesp.com.br
*Incluindo carência
Fonte: Desenvolve SP